segunda-feira, 24 de agosto de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Intertextualidade
Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao "conhecimento do mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos.
Um exemplo é sobre a famoso Canção do Exílio de Gonçalvez Dias, primeiro colocarei o texto original, depois alguns textos que fazem referência a canção do Exílio, ou seja, fazem intertextualidade.
Canção do Exílio
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
Gonçalves Dias
Canção do Exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a
[ Gioconda
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de
[ verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Mendes
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Clarice Lispector
Curiosidades:
• Clarice verteu para o português, em 1976, o livro Entrevista com o Vampiro, da autora estadunidense Anne Rice.[3]
• Ainda jovem, à época esposa de diplomata brasileiro, serviu como voluntária na campanha da Itália durante a II Guerra Mundial, no corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira.
• A primeira edição de Onde estivestes de noite foi recolhida por ter sido colocado, erroneamente, um ponto de interrogação no título.
• Em artigo publicado no jornal The New York Times, no dia 11/03/2005, a escritora foi descrita como o equivalente de Kafka na literatura latino-americana. A afirmação foi feita por Gregory Rabassa, tradutor para o inglês de Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e de Clarice.
• "A descoberta do mundo", de Clarice Lispector, foi um dos livros prediletos do cantor, compositor e poeta Cazuza.[
Em dezembro de 1943, publicou seu primeiro romance, Perto do coração selvagem. Escrito quando tinha 19 anos, o livro apresenta Joana como protagonista, a qual narra sua história em dois planos: a infância e o início da vida adulta. A literatura brasileira era nesta altura dominada por uma tendência essencialmente regionalista, com personagens contando as dificuldades da realidade social do país na época. Clarice Lispector surpreendeu a crítica com seu romance, seja pela problemática de caráter existencial, completamente inovadora, seja pelo estilo solto, elíptico e fragmentário. Este estilo de escrita se tornou marca característica da autora, como pode ser observado em seus trabalhos subsequentes.
Além de escritora, Clarice foi colunista do Jornal do Brasil, do Correio da Manhã e Diário da Noite. As colunas, que foram publicadas entre as décadas de 60 e 70, eram destinadas ao público feminino, e abordavam assuntos como dicas de beleza, moda e comportamento. Em meados de 1970, Lispector começou a trabalhar no livro Um sopro de vida: pulsações, publicado postumamente. Este livro consiste de uma série de diálogos entre o "autor" e sua criação, Angela Pralini, personagem cujo nome foi emprestado de outro personagem de um conto publicado em Onde estivestes de noite. Esta abordagem fragmentada foi novamente utilizada no seu penúltimo e, talvez, mais famoso romance, A hora da estrela. No romance, Clarice conta a história de Macabéa, uma datilógrafa criada no estado de Alagoas que migra para o Rio de Janeiro e vai morar em uma pensão, tendo sua rotina narrada por um escritor fictício chamado Rodrigo S.M. O livro descreve a pobreza e a marginalização no Brasil, temática que pouco aparece ao longo da sua obra. A história de Macabéa foi publicada poucos meses antes da morte de Clarice.
Guimarães Rosa
• 1936: Magma
• 1946: Sagarana
• 1947: Com o Vaqueiro Mariano
• 1956: Corpo de Baile
• 1956: Grande Sertão: Veredas
• 1962: Primeiras Estórias
• 1964: Campo Geral
• 1965: Noites do Sertão
• 1967: Tutaméia – Terceiras Estórias
• 1969: Estas Estórias (póstumo)
• 1970: Ave, Palavra (póstumo)
Realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções lingüísticas e neologismos são algumas das características fundamentais da literatura de Guimarães Rosa, mas não as suficientes para explicar seu sucesso. Guimarães Rosa prova o quão importante é ter a linguagem a serviço da temática, e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o traria de novo ao centro da ficção brasileira.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Antes do baile verde
Antes do baile verde, livro de contos de Lygia Fagundes Telles, publicado em 1970, é uma das obras mais marcantes da carreira da autora. Os contos inseridos nesta coletânea foram escritos entre 1949 e 1969. Nesse sentido, um pensamento inicial pode recair sobre o questionamento de haver ou não evolução qualitativa e conseqüente amadurecimento do autor, resultantes de vinte anos de investida criativa.
Antes de serem publicados, os contos antigos foram revistos pela autora, sofrendo cortes, acréscimos, mudanças de palavras ou de expressões. De acordo com a própria Lygia, entretanto, isso não alterou a fisionomia original de cada trabalho.
A maior parte das narrativas segue um mesmo padrão e os vinte anos que transcorrem entre a confecção do primeiro e do último conto que compõem a coletânea passariam despercebidos, se a data de publicação não constasse expressa no livro.
Conto ANTES DO BAILE VERDE
Nesta história, uma jovem se prepara animada para o grande baile a fantasia de sua cidade, em que todos devem comparecer vestidos com roupas verdes. No quarto ao lado, seu pai doente agoniza em seus últimos minutos de vida. A jovem, movida pela vontade egoísta de se divertir num simples baile ao invés de assumir a responsabilidade inconveniente de cuidar do pai, inventa a todo momento as maiores desculpas para si mesma.
Conto O MENINO
Com o título escolhido a autora sugere a impressão de que a história versará sobre um tema relacionado à infância. Imagina-se que seja sobre algum evento que aconteceu a esse menino ou sobre algo que tenha realizado.
Apesar do menino ser o protagonista da história, o tema principal do conto não é infantil. Assim, o título do texto pode ser considerado como uma “pista falsa” que a autora utiliza com a intenção de causar surpresa no leitor.
Conto O JARDIM SELVAGEM
Em O Jardim Selvagem, de 1965, a personagem que atua como narrador é uma criança, e será sob o seu ponto de vista que o leitor verá os temas adultos – a relação matrimonial, o preconceito, a morte – serem analisados.
Conto VERDE LAGARTO AMARELO
Em Verde Lagarto Amarelo, escrito em 1969 e inédito até a publicação de Antes do baile verde, o tema desenvolvido no conto está relacionado à importância da infância e às conseqüências dos dramas infantis na vida de duas personagens adultas.
Conto A CEIA
Em A Ceia, de 1958, o leitor é apresentado ao último encontro entre um casal, Alice e Eduardo. A perspectiva empregada nesse conto é a narração de focalização externa.
Conto A CHAVE
O conto A Chave, escrito em 1965, volta ao tema da diferença de idade entre os cônjuges. O leitor é colocado em contato com os pensamentos de uma personagem, Tomás, desde as primeiras palavras do conto. A personagem Tomás é também o narrador, e será sob sua perspectiva que a história será contada.
Conto UM CHÁ BEM FORTE E TRÊS XÍCARAS
Novamente os temas da traição, dos desencontros no casamento, da velhice versus juventude, são abordados em Um Chá Bem Forte e Três Xícaras, de 1965.
Conto EU ERA MUDO E SÓ
Para construir a narrativa em Eu Era Mudo e Só, de 1958, Lygia Fagundes Telles empregou um narrador autodiegético, a personagem Manuel, o marido que se sente oprimido com o casamento. É por meio do olhar de Manuel que o leitor conhece a esposa, Fernanda.
Conto AS PÉROLAS
Em As Pérolas, conto de 1958, o pano de fundo para tratar o tema é novamente um diálogo entre marido e mulher. Entretanto, diferentemente dos protagonistas de Eu Era Mudo e Só, as personagens que formam o casal apresentado em As Pérolas, Tomás e Lavínia, se amam.
Conto OS OBJETOS
Em Os Objetos, conto escrito em 1969 e inédito até a publicação de Antes do baile verde, a autora mais uma vez apresenta ao leitor uma cena do cotidiano de um casal em desarmonia, Lorena e Miguel, que tiveram um passado feliz mas que, no “presente” (no momento da ação), enfrentam problemas, principalmente pelo desequilíbrio mental de Miguel. São abordados temas como a solidão, a loucura, o fim do amor.
Conto VENHA VER O PÔR DO SOL
Em Venha Ver o Pôr do Sol, o narrador é do tipo heterodiegético, quanto à sua relação com a história – ou seja, existe uma voz, ausente da história, que narra os eventos.
Conto A CAÇADA
Em A Caçada, de 1965, Lygia Fagundes Telles emprega um narrador extradiegético, com relação ao nível narrativo, e heterodiegético, quanto à sua relação com a história, ou seja, a voz que conta está ausente da história.
Conto NATAL NA BARCA
Fantasia e realidade voltam a se encontrar no conto Natal Na Barca, de 1958, narrativa linear que tem como tema a força da fé, a existência de milagres, a vida e a morte.
Poesia Práxis
Medir é a medida
Mede
A terra, medo do homem, a lavra;
Lavra
Duro campo, muito cerco, vária várzea.
Medir é a medida
Mede
O sítio, dote do homem, o sêmen;
Some
Capim seco, muito buço, tosca sebe.
Medir é a medida
Mede
A área, fundo do homem, a sombra;
Soma
Torto galho, muito valo, frágil cana.
Medir é a medida
Mede
A furna, rumo do homem, o sonho;
Sonha
Fofo brejo, muito lodo, fértil mofo.
Medir é a medida
Mede
A choça, cave do homem, a cova;
Cava
Rasa poça, muito barro, planta morta.
Mário Chamie